coringa de copas

Vinícius Silva
2 min readJan 20, 2024
Foto de Jack Hamilton na Unsplash

I.

um riso aflito. cômico, desses incontroláveis
antes fosse só de graça, mas tece nele uma linha
triste. um desconforto com o desenlace, o desdém
pela costura sinuosa e mal trançada que põe linha
acima de linha, que põe nó acima de nó.

as pernas ficaram inchadas e cheias de pelos
as cabeças estão todas calvas e a pele oleosa
os pés encharcados de suor. os rostos
há uma úlcera no tom da voz. um quê de vaidade
similar ao cheiro forte de um xampu barato.

antes dos vinte estarei morto com trinta e
ainda sou jovem. não envelheço assim
como nenhum de nós. o acúmulo não é de tempo
pois o perdemos não sabemos onde, mas
de cansaço. cansaço pela cirrose de cada olhar
presunçoso. pelo cancro exposto em cada aperto
de mãos, em cada promessa desfeita.

não desejo felicitações, e entristece-me admitir
o riso dito de cujo aquele que ri de seu próprio riso
tem ânsia é de vazio. do fim desse barulho. dessa
sujeira que não se mede e lhe possui. esse riso anseia
pela morte para pôr fim a sua própria desordem.

II.

há certa serenidade entre as quatro paredes brancas
de um sanitário. há esperança. há de haver
esperança com um coringa de copas em mãos.

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