veneno anestésico
um caderno de folhas brancas
é disso que preciso
— quero ser artista! pintar, comercializar quadros sob encomenda e poesia impressa e livros. escrever livros. o romance nacional de nossa geração. novos contos. poemas. mais poemas. desenhar, fumar cigarros soltos e me embriagar de vinho nas noites de sábado. conhecer novas cidades ao seu lado. o "abandonar tudo" do poeta-anarquista. sem um puto para sustento em um cubículo privado a milhas de distância.
então, te vejo sentada em nosso sofá
e me lembro do crachá de doze horas que aproximo da catraca em dias úteis
e me lembro das faturas do cartão de crédito que ainda irão vencer
e me lembro da casa ou da chácara que queremos financiar
por vinte anos.
um caderno novo
de folhas brancas,
meu bem
com um desses
de folhas a quatro
grandes, lisas, brancas
posso com tudo
posso com a catraca
posso com os vinte anos
posso com você.